Seu cliente travou… e agora, o que fazer? Congelamento Clínico. pt 3

Dando continuidade ao estudo que foi levantado sobre as razões que produzem estagnação dentro da experiência clínica, hoje irei abordar mais um item que contribui para esse processo: a falta de aprofundamento no transe terapêutico.
Caso você esteja entrando em contato com esse texto hoje, minha recomendação é que possa estudar os dois outros conteúdos publicados sobre o tema, para auxiliar em sua compreensão sobre os elementos que afetam a produtividade clínica e como trabalhar para voltar a recuperar o fluxo terapêutico.
FALTA DE APROFUNDAMENTO
Para Erickson o processo de cura e desenvolvimento, quando interrompido em seu fluxo natural, por problemas variados, só pode ser retomado através do acesso às informações produtivas do inconsciente.
A melhoria das condições para esse empoderamento cresce, consideravelmente, se o cliente estiver em uma conexão mais afinada consigo mesmo e, em contrapartida, afastado das distrações ambientais e dos padrões relacionais e psicológicos, que geralmente dominam sua expressão e decisão, gerando um melhor estado interior favorável para suas construções terapêuticas que costumamos chamar de aprendizagem significativa.
Verificando que essa qualidade na aprendizagem clínica, acontecia como consequência da experiência do transe (estado de aprendizagem significativa), Erickson testou as inúmeras possibilidades de adaptá-lo às necessidades do cliente, produzindo-o na profundidade que seria útil para proporcionar melhores respostas terapêuticas.
O aprofundamento acontece, quando na produção do transe terapêutico, utilizamos uma série de procedimentos visando aprofundá-lo, para gerar um estado de maior nível de conectividade entre o foco do cliente e seu sistema, garantindo uma maior abertura para as percepções do inconsciente.
Essa abertura que aumenta, na medida em que também aumentamos o aprofundamento, não apenas permite que as informações do inconsciente encontrem condições de serem reconhecidas, mas que as mesmas aconteçam com maior intensidade e diversidade de informações.
Essa “intensificação e diversificação” das informações inconscientes, permite que as experiências internas, tragam mais força emocional e percepções mais profundas, o que contribuí muito para as resoluções psicológicas.
Da mesma forma que dosamos a medida do remédio, segundo a condição da doença, visando produzir condições curativas, também dosamos a profundidade do transe, segundo a percepção que vamos co-criando (criação cooperativa) com o cliente, que seja necessário para afastá-lo de suas limitações conscienciais e aprofundar sua conexão com novas possibilidades.
Muitos processos terapêuticos não avançam com qualidade pelas sugestões indiretas, não estarem sendo compartilhadas em um grau de profundidade de transe, fazendo com que as mesmas “se choquem” nas limitações da mente consciente e dos padrões de desempoderamento em que o cliente se encontra.
Mas como verificar se o meu cliente está em um grau considerável de aprofundamento que aumente a probabilidade das estratégias compartilhadas gerarem bons resultados?
Erickson dizia que o estado de aprendizagem significativa, proporciona um estado interno que ele chamava de “ não pensar, não fazer”, somado a uma bom grau de expectação positiva. Mas o que significa isso? Não pensar, não fazer? Expectação positiva? Explique isso melhor Alexandre!
“ Não pensar, não fazer” significa que quanto mais o cliente deseje estar no controle da situação, querendo dominar o fluxo do pensamento e da ação, mais as limitações da mente consciente estarão atuando e, como consequência, menos espaço existirá para as associações inconscientes.
Então, uma forma de avaliar se foi construído um bom nível de aprofundamento é verificar se no processo do transe, o cliente se encontra em considerável estado de passividade, o que significa estar relaxado da necessidade de querer pensar certo ou fazer certo, o que permite que o processo criativo encontre um clima mais propício para emergir.
Não é isso que as estratégias que buscam potencializar a criatividade fazem? Deixar-nos em um estado em que não nos preocupamos se vamos fazer certo ou pensar certo, para permitir que a espontaneidade se desenvolva a um grau considerável de liberdade e intensidade, visando criar melhores condições para o processo criativo apresente novas possibilidades?
Ok Alexandre… eu compreendi o que significa “não pensar, não fazer”…Mas o que significa expectação positiva?
Expectação positiva é um estado interno de aguardar e confiar que algo bom e produtivo irá acontecer. É um esperar guiado por um estado interno de confiança.
Erickson era “expert” (e coloque expert nisso!) em gerar expectação positiva no cliente. Buscando construir o estado de transe em um grau de aprofundamento em que ele sentisse que o cliente estava se distanciando dos limites da mente consciente, ele estimulava com histórias, frases, reflexões, etc… um estado positivo no cliente diante da experiência que ele estava co-criando com o mesmo.
O cliente, então, além de relaxar a necessidade de controle, com o aprofundamento do transe, gerava um estado emocional de confiança perante o processo terapêutico, o que aumentava as chances de estimular o próprio sistema na criação de respostas terapêuticas mais amplas e profundas.
O falta de aprofundamento no transe, assim como de expectação positiva, se apresentam como um dos itens que mobilizam a estagnação clínica do cliente. Confira as partes 1 e 2.