PROTOCOLOS… ELES FUNCIONAM OU NÃO?
“PROTOCOLOS AUXILIARAM A HUMANIDADE A PREVER E CONTROLAR AS MUDANÇAS AMBIENTAIS… MAS SERÁ QUE ELES PODEM SER ÚTEIS EM TODAS AS ÁREAS?”
Protocolo é uma série de informações, decisões, regras definidas de forma pré-determinada, que gera um conjunto de procedimentos a serem cumpridos na realização de determinada atividade.
Quando pensamos em nosso histórico como “humanidade”, podemos verificar que no início de nossa “empreitada como vida”, não éramos os animais mais fortes, nem mais ágeis nem com os melhores sentidos da natureza.
De forma acidental ou proposital, em determinado momento, verificamos uma capacidade cognitiva que nos permitia observar, compreender, planejar, controlar e prever os eventos ambientais que nos circundavam.
Dessa forma, inicialmente como tentativa e erro, e posteriormente, com habilidades em construir métodos e instrumentos, fomos compreendendo o funcionamento de vários contextos da vida, objetivando prever e controlar tais situações, para garantir nossa sobrevivência e, posteriormente, nossa melhoria de qualidade de vida.
As compreensões geradoras de métodos acabaram criando “protocolos”, ou seja, um passo a passo, como consequência daquilo que foi observado gerar sucesso nas atividades da humanidade.
Qual é a melhor forma de caçar? Qual o melhor caminho para construir casas? Qual a melhor forma de passar por uma floresta repleta de predadores?
E claro… historicamente mais a frente: qual o caminho para nos imunizarmos de inúmeros vírus que dividem o palco da existência conosco? Como produzir, estocar, transportar alimentos no mercado internacional? Como anunciar e vender novas tecnologias de forma a criar no imaginário popular “ uma nova necessidade” de consumo?
Fomos aprendendo a criar, usar e nos apoiar em protocolos, para administrar os eventos da vida, a garantir repetição dos comportamentos que aumentam as chances de construir bons resultados
Mas será que, apesar de historicamente os mesmos terem tido sua importância para nossa humanidade, os protocolos podem ser úteis em todos os contextos da vida?
AS DINÂMICAS RELACIONAIS
Imagine você em um primeiro encontro afetivo, começando a interagir com aquela pessoa que ansiosamente você projetou construir uma experiência afetiva… fácil imaginar uma situação dessa não é mesmo?!
Agora visualize que indo para esse encontro afetivo você, ligando o celular, começa a ler um PDF intitulado “ os 12 passos para conquistar a pessoa que ama”. Está me acompanhando?! Consegue visualizar a consequência de se apoiar em protocolos para construir relacionamentos que gerem conexão, diálogo claro e produtivo?
Agora imaginem essa cena… digamos que em algum momento esteja nesse livro que “em um primeiro encontro você jamais deve contar uma piada” (claro que essa é uma hipótese para ilustrar o meu ponto de vista) e, de repente, a pessoa “desejada por você” começa a contar piadas e a se divertir muito com elas… e você percebe ali naquele contexto, claramente, que o humor é uma ponte maravilhosa para ampliar a conexão com aquele coração.
“PROTOCOLOS NÃO NOS AJUDAM A LIDAR COM CONTEXTOS DE SENSIBILIDADE E RELAÇÕES HUMANAS”
O que fazer com os protocolos construídos? Eles não nos ajudaram em diversas demandas? Como vou conseguir construir um vínculo de qualidade com essa pessoa, se eu não seguir as recomendações dos “12 passos” ou , é claro, qualquer modelo que prescreva o “como fazer” para lidar com relacionamentos?
Minha recomendação é… jogue fora os protocolos…rs eles são bons e servem nos mais variados contextos… mas até que se prove o contrário, em todos os contextos que envolvem sensibilidade, habilidade de conexão, exploração dos significados singulares e profundos de uma pessoa… os mesmos se mostram instrumentos que não nos ajudam a nos adaptar com qualidade.
O que ajudaria nesse contexto? Estar presente com essa pessoa, se conectando com suas percepções singulares que possam emergir e buscando, de forma verdadeira e vulnerável, construir um diálogo produtivo nos temas e assuntos que possam ressoar a individualidade da mesma… ou seja… ressoar em sua singularidade.
“A SINGULARIDADE DE CADA PESSOA NOS CONVIDA A DESCOBRIR OS CAMINHOS ÚNICOS PARA A CONEXÃO”
Em relacionamentos protocolos não funcionam porque por cada pessoa ser única, também será o único os assuntos, a forma, o ritmo, os contextos que emergirão e convidarão a pessoa que está interagindo, a se ajustar seu sistema ao sistema da pessoa, da forma como surge e com os assuntos que emergem para gerar a experiência do encontro na interação humana.
Encontro acontece quando dois ou mais seres humanos podem ajustar seus sistemas para criar um nexo, ou um dinâmica relacional de conexão, que permitam que um campo relacional de qualidade possa se configurar e qualificar a troca.
O encontro na experiência clínica é primordial para compreendermos as necessidades de nossos clientes, para construirmos a experiência da segurança clínica e abertura dos envolvidos para o aprofundamento do processo e para gerar informações afetivas de qualidade que, por si só, já adicionam excelentes informações terapêuticas no sistema psicológico da pessoa.
Por isso para privilegiar a qualidade das relações, e aqui especificamente, da relação clínica, aprender a abandonar protocolos para ajustar seu sistema no sistema do seu cliente, visando afinar a conexão relacional, é o grande segredo para construir um ambiente clínico de qualidade.
Protocolos em processos relacionais tendem a congelar a troca, dificultar as possibilidades singulares que precisam de espaço para emergir, e impedir que seja desenvolvido verdadeiras habilidades de sensibilidade e conexão que precisam de espontaneidade e autenticidade para amadurecerem.