HIPNOSE ERICKSONIANA: INDO ALÉM DO CONTEXTO CLÍNICO – PARTE 2
Dando continuidade ao texto que compartilhamos na semana passada, abordando o uso da Hipnose Ericksoniana nos contextos empresariais e educacionais, hoje iremos compartilhar reflexões sobre os dois itens restantes: compreensão da informação implícita e uso de estratégias ajustadas em contextos não clínicos.
Lembrando que estamos compartilhando nesse texto, itens fundamentais do imenso arquipélago da filosofia Ericksoniana, buscando indicar alguns aspectos que podem contribuir para qualificação de empresários e professores.
COMPREENSÃO DA INFORMAÇÃO IMPLÍCITA.
Toda comunicação possuí dois níveis de informações que forma a sua totalidade: um lado mais superficial, que versa sobre seu aspecto explícito, e um mais profundo, que representa o seu aspecto implícito.
Explícito é tudo aquilo que é claramente identificável, denotando a parte mais externa e superficial da comunicação. Já o implícito é o aspecto da comunicação que está oculto , que é mais interno e, dessa forma, mais profundo.
Vamos dar um exemplo, visando ampliar a compreensão sobre esses dois aspectos citados.
Imaginemos alguém que sempre sente medo ao passar por uma casa onde existam cachorros, fazendo com que ele se sinta intimidado, mesmo que houver toda a segurança que impeça a presença de algum acidente.
Se perguntássemos para ele o que está acontecendo, ao verificar seu estado de tensão e mudança de atitude, ele responderia, com algumas nuances, da seguinte maneira:
“ Eu sempre acesso medo, quando existem cachorros que latem nas casas que eu passo e, não sei porque, mas quando penso sobre isso, me sinto um verdadeiro covarde”.
Os três aspectos que estão em negrito (medo, cachorros que latem nas casas que eu passo e um verdadeiro covarde) fazem menção aos elementos que formam as informações explícitas.
Quando eu descrevo uma emoção, ou um estado interno (no caso o medo), eu apenas estou relatando uma reatividade emocional. Não existe nessa informação nenhum elemento complementar, que auxilie a compreender o que está na base desse medo, ou seja, seus significados mais profundos.
Da mesma forma que descrever uma circunstância, como no caso “cachorros que latem nas casas”, isso não me ajuda a compreender as informações mais profundas que fazem com que essa pessoa, reaja dessa forma, quando lida com tais circunstâncias (e acredite, não é lógico que pessoas que passem por casas que existam cachorros que latem, fiquem com tanto medo), tornando esse tipo de informação parte das características daquilo que chamamos de explícito.
E, como consequência das categorias explícitas da informação, existem as conclusões sobre nós mesmos, sempre de fundo avaliativo, que são formadas pelos julgamentos feitos sobre nós mesmos, ao vivermos determinadas experiências.
Termos como “sou um covarde”, ou “sou doido mesmo”, ou qualquer outro tipo de conclusões limitante e avaliativas sobre nossa identidade, não informa qual ou quais informações mais profundas estão na base desse medo, nos ajudando a perceber o seu significado para aquela pessoa.
Dessa forma, toda informação que apenas descreve um estado interno, uma circunstância ou conclusões limitantes sobre nós mesmos, fazem parte daquilo que nomeamos como informações explícitas, que por ser a parte mais superficial de toda comunicação, não nos ajuda a construir uma compreensão mais profunda sobre as necessidades clínicas e\ou educacionais de uma pessoa.
Indo em direção às informações que apresentam uma profundidade sobre a comunicação e a experiência de uma pessoa, encontramos aquilo que nomeamos como elementos implícitos, e que se referem aos significados que quando acessados, nos auxiliam a compreender o sentido da necessidade de uma pessoa.
Esse sentido interno que está na base do que as pessoas pensam, sentem e agem, quando compreendido ajuda a trazer clareza de qual ou quais caminhos trilharemos para construir os processos de aprendizagem (aqui indicando as construções tanto clínicas, quanto educacionais e organizacionais).
Se, por ventura, explorássemos essa informação mais profunda, verificaríamos que na base desse medo (e é claro, em casa pessoa os significados serão diferentes, mesmo que seja o mesmo evento), pode existir uma percepção “de que viver não é seguro”, que ficou associado aos cachorros, por alguma experiência e conclusões vividas durante sua história pessoal.
Uma coisa é compreender e agir, que a o problema a ser trabalhado, é o medo sobre os cachorros, ou com as casas que a possuem, ou com a percepção de me sentir covarde por perante esse medo.
Uma outra coisa é compreender e atuar na informação implícita dessa experiência, e buscar trabalhar com aquela parte da pessoa que, em seu crescimento, construiu uma percepção de que “não é seguro viver no mundo”.
o atuarmos na informação explícita, estamos buscando trabalhar a roupa da experiência da pessoa… mas ao atuarmos nas informações implícitas, estamos atuando, diretamente, no corpo, ou na essência, que colabora para determinada experiência, por isso, temos a oportunidade de compreender e atuar ajustarmos nas verdadeiras necessidades da pessoa.
Com essa informação, podemos “compreender” verdadeiramente o que seja a necessidade da pessoa e, se quisermos atuar, saber o que começar a falar e\ou fazer.
Professores e empresários, muitas vezes se atêm nas informações explícitas dos seus funcionários e alunos, buscando soluções para as questões mais superficiais da experiência, e redundando em um insucesso, pela atuação não ter ocorrido em um nível mais profundo, o que garantiria resultados mais duradouros.
Não estamos convidando para que os ambientes educacionais e empresariais se transformem em ambientes clínicos. Tais ambientes precisam de dinâmicas adequadas que favoreçam o trabalho da empresa e a construção da aprendizagem.
A questão aqui é que as habilidades de compreender as informações implícitas, darão aos mesmos, maior poder de compreensão sobre as necessidades dos seus alunos e funcionários, gerando clareza dos elementos que estão verdadeiramente atuando na dificuldade da aprendizagem ou da elaboração do trabalho.
Também irão proporcionar, como consciência dessa compreensão mais profunda, uma capacidade de potencializar os recursos favorecedores, para que alunos e colaboradores, atinjam seus objetivos com maior qualificação.
USO DAS ESTRATÉGIAS AJUSTADAS
A Hipnoterapia Ericksoniana possuí um conjunto de estratégias muito amplas e profundas, visando promover as estimulações necessárias, que gerem as consequências daquilo que Milton Erickson chamou de “aprendizagem significativa”.
Aprendizagem Significativa é um termo que ele usava, para informar aquela condição interna, que todo ser humano ao construir, acessa uma condição de maiores recursos e emoções de empoderamento, que facilitam seu processo de cura e desenvolvimento.
Existe, nesse ponto, duas aprendizagens ericksonianas, que quando alinhadas, tornam o uso das estratégias, mecanismos valiosos para promover mudanças produtivas:
1. Aprender e usar as estratégias ericksonianas.
2.Aplicar elas ajustadas as necessidades e ao perfil do seu cliente.
Quando esses dois elementos se conectam, não apenas o processo de cura dos seus clientes são ativados, mas poderosos processos internos estimulam um melhor desenvolvimento das habilidades necessárias.
Tais estratégias, tanto nas empresas, como nas escolas, podem ser excelentes estímulos para ajudar a trabalhar um estado de maior abertura, motivação e melhorias relacionais, que são vitais não apenas para a melhoria das dinâmicas educacionais, mas também para gerar uma melhor clima de produção organizacional.
Também o uso delas podem e devem ser usadas, para fazer com que a informação, que seja importe, possa atingir seu aluno ou seu colaborador em um nível mais profundo, gerando associações internas poderosas, que permita que ele cumpra suas funções e/ou desenvolva suas aprendizagens, de uma forma mais produtiva e segura.
Mais uma vez, a forma como colocamos as reflexões nesse texto, serve ao propósito de trazer uma introdução que permita reconhecer que a estratégia ericksoniana possuí possibilidades, que podem ser usadas muito além da experiência clínica, se transformando em excelentes instrumentos para promover qualidade e desenvolvimento dentro do contexto da aprendizagem e da produção empresarial.