Quando o seu Felt Sense fala com você, o que você responde?
Escrito por Ann Cornell
Se você é sortudo(a) e persistente, você chegará, com a Focalização, a um lugar onde alguma coisa dentro de você quer se comunicar. Se você alcançou este ponto, celebre! Eu lembro como demorou – meses e meses – para eu começar a sentir algum tipo de significado e comunicação entre o meu interior e eu. E demorou mais ainda para eu começar a confiar no que eu estava sentindo sem ser assolada pela dúvida de estar inventando.
Eu investi um longo tempo em meu livro, The Power of Focusing, dando dicas importantes de como chegar até este lugar de comunicação. No entanto, quando você está lá, uma vez que o Felt Sense começar a “falar”, há todo um novo conjunto de coisas para prestar atenção.
Eu gosto de lembrar, focalizador, que “você é o ouvinte”. Você, a pessoa focalizador, é o ouvinte do Felt Sense interior. Se você aprendeu o tipo de atenção empática ensinada nos treinamentos de Focalização, esta frase “Você é o ouvinte” faz mais sentido. Você está respondendo aos sentimentos e desejos dessa voz interior, independentemente do que foi dito, você, o ouvinte, responderá “eu escuto você”.
Esta audição interior é o que traz a mudança, a libertação. Se a voz interior falar “Eu estou tão triste por não termos amigos”, você responderá “Eu realmente escutei o quão triste você está sobre o sentimento de não ter amigos”. Se ela falar “Eu estou com muita raiva do seu chefe ao ponto de querer matá-lo”, você responderá “Ah, eu escuto o quão colérica você está, você até deseja matá-lo”. Se ela falar para você “Eu desconfio que você não voltará para escutar o que tenho a dizer”, você responderá, compassivamente, “Eu escuto o quanto você desconfia que eu nunca mais volte e eu escuto que você quer que eu volte”.
Não são respostas como “Nós temos amigos, sim. E a Alice?”, “Hey, não mostre esta raiva ou perderemos o trabalho!”, “Está bem, você pode confiar em mim”.
Talvez você tenha partes de você que possuem o desejo de ser informativas, protetoras, reconfortantes, e isso está bem, mas essas partes não devem ser classificadas como ouvintes. Talvez elas necessitem de um ouvinte! Talvez você precise reservar algum tempo para ouvir a parte que está amedrontada pela possibilidade de perder o emprego se ela liberar a raiva, mas a parte raivosa ainda necessitará ser escutada, sem julgamento.
Uma das maneiras de lembrar disso é: se você fala “Eu te escuto”, não diga “mas”. Vamos dizer que você reservou um tempo para a parte de você que quer comer muito. Você está ouvindo que isto é positivo para você. Essa parte de você fala “Eu quero que você tenha conforto e prazer”. Você sente em seu corpo que esta parte está tentando te ajudar a ter conforto e prazer. “Mas”, claro que existe um “mas”, claro que existe o outro lado da imagem. Existe outra parte em você que sabe que encontrar conforto e prazer através de comer em excesso não é a melhor coisa para o seu ser.
Não diga isso! Por enquanto, deixe esse conhecimento quieto porque a parte que deseja comer muito necessita sentir-se ouvida. Ela precisa saber que você recebeu a mensagem e a ouviu. E ela não se sentirá ouvida se você falar “mas”.
[…]
Eu estava trabalhando com uma mulher que queria liberar-se de uma obstrução em sua garganta. Ela era cantora e tinha um bloqueio. Ela sabia, mesmo antes de começarmos, que a obstrução em sua garganta era por não expressar-se livremente, por não mostrar ao mundo seu eu verdadeiro. E quanto ela queria essa mudança!
Esta era sua primeira sessão de Focalização, então ela não sabia, ainda, como dizer apenas “Eu escuto você”. Suas experiências anteriores foram com inúmeros bem-intencionados métodos, populares atualmente, que convidavam o paciente a negociar ou barganhar com seus bloqueios, ou explicar que as coisas são diferentes agora. Então, quando a questão em sua garganta começou a conversar com ela, a resposta automática foi um “mas”.
“Ele (bloqueio) disse que tinha me salvado em inúmeras ocasiões”, ela explicou, “quando eu teria entrado em grandes problemas por falar o que pensava e ele me barrou. E eu falei à ele”, e ela continuou, sem dar-me tempo para dizer palavra, “que eu realmente apreciava o que ele tinha feito por mim, mas eu gostaria de readquirir o poder de escolher quando expressar-me e quando não”.
Soa razoável, certo? Soa poderoso dizer “Eu gostaria de readquirir o poder”. Existe, apenas, um porém – isto não funciona.
“Como está o bloqueio em sua garganta, neste momento?” Eu perguntei.
“Continua aqui.”
“Ah”, eu disse (eu não estava surpresa com a resposta), “bem, você estaria disposta a tentar uma experiência?”
“Claro”, ela disse.
“Diga a ele, de novo, a mesma coisa, mas, desta vez, deixe de fora a última parte, a parte com o ‘mas’. Diga que você ouviu que ele te salvou em inúmeras ocasiões e, então, pare e escute.”
“OK”, ela disse e ficou calada. Depois de um minuto, ela relatou “Wow, ele está falando muito”
“Bom”, eu disse. “Só deixe que ele saiba que você o escuta.”
“Ele está falando em capítulo e verso todas as vezes que ele me salvou. Ele está me mostrando todos os momentos que isso aconteceu.”
“Só deixe que ele saiba que você o escuta”, eu repeti.
Então, houve um silêncio prolongado, o tipo de silêncio que você consegue dizer que há muitas coisas acontecendo. Depois de cinco minutos, ela disse amavelmente “Está derretendo. Ele, simplesmente, soltou-se e agora está liberando os lados da minha garganta”. E nós, então, reservamos o tempo para receber aquele sentimento.
Eu descobri que isto acontecia com tanta frequência que a frase “Eu estou deixando a parte saber que estou ouvindo-a” faz parte do material de Focalização que eu entrego em todos os treinamentos. A frase significa não brigar, não tranquilizar, não reconfortar, não concordar em fazer o que é pedido, nada, mas apenas “Eu ouço você” e ouvir. É quando alguma coisa em você sente-se ouvida, somente ouvida, que torna-se livre pra mudar da maneira que é necessário.