Perguntas como estratégias indiretas no trabalho hipnoterapêutico

As perguntas sempre foram instrumentos importantes usadas pela curiosidade humana, para direcionar nossa atenção de forma adequada, visando encontrar alguma informação interessante.
Seja como consequência da reflexão que ela gera, seja pela pesquisa que a busca em respondê-la irá mobilizar, qualquer jornada que vista construir informações importantes sobre algum tema, sempre começa pelo uso da pergunta mais apropriada, que irá direcionar a nossa atenção ao local certo.
Investigações recentes indicam que o cérebro humano, quando se defronta com uma pergunta, irá mobilizar um esforço para construir eou encontrar informações satisfatórias, seja nas recordações conscientes, seja em informações outras que são possíveis acessar pelos canais inconscientes.
Essa possibilidade de buscar informações nos canais inconscientes, através de processos mentais autônomos que fogem do controle racional, é o que marca a essência das estratégias indiretas, que tem como objetivo mobilizar as associações da mente inconsciente.
Dentro da Hipnose Ericksoniana é importante ajudar os pacientes a reconhecer outras informações do seu mundo interno, que transcenda os conteúdos presentes em sua mente consciente e, por ampliarem sua capacitação pessoal pelo acesso de novos recursos, gerem uma condição de melhor adaptabilidade perante os desafios de sua vida.
As perguntas, estrategicamente formuladas, podem auxiliar nesse processo, se transformando em uma excelente aliada aos objetivos clínicos.
PERGUNTAS QUE FAVORECEM O ESTADO DE TRANSE
As perguntas terão um valor muito grande como sugestões indiretas, quando não podendo ser facilmente respondida pela mente consciente, estimulem um certo estado de confusão no processo racional.
Tais perguntas enfraquecem o domínio da mente consciente em cima do nosso foco, fazendo com que o mesmo construa uma certa distância perceptiva de seus conteúdos, e abram espaço para perceber as associações inconsciente que foram ativadas.
Para Erickson as sugestões indiretas (e aqui entraria essas perguntas que possuem um certo grau metafórico) realizam dois processos em nosso mundo interior:
- Gerar um estado de confusão no processo racional, como consequência do conteúdo metafórico da sugestão, proporcionando um certo distanciamento das informações conscientes e abertura para as informações inconsciente.
- Ativam as associações do inconsciente por esse ter uma linguagem metafórica e ser mais estimulado por uma comunicação que seja afim.
Como as perguntas são mobilizadoras de várias experiências na clínica ericksoniana, as mesmas, podem estimular para que o cliente acesse os estados de transes, através das associações que geram.
Algumas dessas perguntas geram o transe por estimular para que a pessoa, de forma indireta, realize escolhas conscientes. Tais escolhas irão favorecer um posicionamento que estimulará o objetivo dela se alinhar para aprofundar o foco em si mesma (transe).
Exemplos:
Eu fico curioso em saber qual seria o local onde focar os seus olhos, lhe traria uma experiência de conforto?
E ao focar esse local com conforto, veja na medida em que o conforto vai aumentando, de maneira esse conforto vai, como e quando você escolhe fechar os seus olhos?
Veja se você prefere fechar os dois olhos ao mesmo tempo ou um de cada vez?
Veja se ao fechá-los você sente vontade de abrir de novo, para voltar a fechar ou se fecha definitivamente eles?
Perceba que nesse estilo de perguntas, de forma indireta, você elege opções conscientes que a pessoa ao se definir pela sua escolha, estará no fundo se alinhando e escolhendo a melhor fora para começar a acessar o objetivo clínico ali em voga (entrar em transe).
Outras perguntas criam uma condição onde e escolha ao ser feita pela intencionalidade consciente, cria a expectativa e confiança por uma resposta que emerja do inconsciente.
Exemplo:
Fique curioso como você vai entrando mais e mais em transe…
Você vai entrando mais e mais em transe ao perceber como seus olhos vão se fechando? Ou ao perceber qualquer nível de conforto que esteja presente?
Eu não sei… mas você saberá…
Você vai aprofundando mais e mais o transe que você já se encontra por escolher mergulhar com decisão no seu conforto? Ou por apenas permitir que que seu conforto te envolva de uma maneira que seja boa para você?
Percebam que o “entrar em transe” e o “entrar mais e mais profundamente em transe” é a resposta do inconsciente, e a possibilidade de fazer isso ou aquilo, é a resposta da mente consciente… na medida em que ele escolhe um ou outro, ele admite que algo que ele não sabe (entrar em transe, aprofundar o transe) vai acontecer sem mesmo que ele perceba como tudo está acontecendo.
E, finalmente, existem aquelas perguntas que serão feitas apenas deixar o cliente em um estado daquilo que Erickson chamou de “não pensar e não fazer”, ou seja, num estado de total abertura consciencial, numa expectativa positiva, criando as condições propícias para a resposta inconsciente emergir.
Exemplos:
De que maneira você acessa qualquer coisa que seja bom, na medida que o transe aprofunda mais e mais, sem mesmo perceber como tudo acontece?
Fique curioso como você aprofunda o transe, de uma maneira que seja boa para você?
Percebam que essa categorias de perguntas, geram um estado de abertura consciencial para algo que está fora do seu controle consciente, mas que deixa o cliente em um estado de expectativa positiva, por ter uma implicação de que a resposta produtiva do inconsciente irá acontecer “de qualquer maneira que precise acontecer”.
Os três tipos de perguntas, a eleição de algo consciente feita de forma indireta para auxiliar no transe, a eleição de algo consciente que irá gerar uma reação inconsciente que favorecerá o transe e a pergunta em que deixa implícito que algo irá emergir do inconsciente, são três formas de você trabalhar para auxiliar o cliente a acessar sua respostas internas.
Na próxima semana aprofundarei o tema das perguntas que geram acesso a informações que produzem compreensão profunda e resolução interna.