ACT Institute | O ACT Institute Brasil é o Maior Instituto de Hipnose do mercado e referência internacional em Hipnose Ericksoniana. Dr Stephen Paul Adler, PhD, seu presidente-fundador, é discípulo de Milton Erickson, sendo o único trainer habilitado por ele em toda a América Latina.

Um estudo sobre regressão de memória – parte 1

memória

Regressão de memória: INTERAÇÃO ENTRE AMBIENTE E MUNDO INTERIOR

As circunstâncias que surgem em nossa história de vida são experiências que, em nosso mundo interior, são decodificadas e alojadas como um conjunto de informações que formam as características das nossas bagagens internas, transformando-se em elementos psicológicos que afetam (positivamente ou negativamente) nossa maneira de pensar, sentir e se comportar.

Os estímulos ambientais não são interiorizados diretamente, como se fôssemos uma folha em papel em branco, registrando as informações presentes em nossas vivências, mas são decodificados em arranjos especiais, que são influenciados pelas emoções, perspectivas, interpretações (e muitos outros aspectos) que nos apoiamos para interpretar esses eventos, internalizando-os com informações específicas.

Um exemplo simples seriam dois irmãos que, vivenciando uma circunstância específica, como uma aula de arte, decodificam experiências internas completamente diferentes. O primeiro, por se sentir identificado com tal atividade e motivado em desenvolver maiores habilidades artísticas, experimenta um conjunto de emoções e percepções relacionados ao encontro com sua autenticidade, ampliando o sentimento de estar mais conectado ao seu propósito. 

Já o segundo, obrigado pelos pais que possuem uma identificação com a experiência artística e projetam essa realização nos dois filhos, por ter uma identificação com atividades esportivas, desenvolve percepções e emoções de supressão aos seus reais desejos,  desenvolvendo uma experiência interna de “ não existir espaço na vida, para ser ele mesmo”.

Ambos vivenciam a mesma situação, mas, apoiados em suas perspectivas, desejos e emoções, colorem essa circunstância (aula de arte) de forma singular, internalizando-as com informações que contribuem, ou não, para sua saúde emocional.

Dessa forma, apesar das circunstâncias em nossas vidas serem importantes para influenciar nossa existência, é vital considerar que, conscientes ou não dessa característica, parte da experiência é construída por uma decodificação interna, que faz o material ser guardado em nossa memória como um conjunto de informações específicas.

FORMAÇÃO E ESTRUTURA DE UMA MEMÓRIA

Nosso repertório mnemônico (informações que formam o arcabouço de nossas lembranças) vai sendo construído pelas circunstâncias que vivemos, somadas à forma completamente singular com que fomos interpretando e dando sentido às mesmas.

A memória então se forma através de um conjunto de informações que reúne   materiais cognitivos, emocionais e sensoriais (fatores que estão presentes nas experiências que vivemos)produzindo, como consequência disso,  um tom emocional e sensorial (de prazer ou desprazer, felicidade ou infelicidade, etc..), assim como informações e crenças que foram construídas das interpretações e aprendizagens que elegemos, ou que tivemos competência para realizar, trazendo para nossas vidas situações internas de limitação ou de amplitude de possibilidades.

Dessa forma a memórias com seus materiais,  funcionará como uma fonte que continuamente, conscientes ou não dessa questão,  irá  influenciar nosso mundo interior, com informações  carregadas dos conteúdos que compõem sua estrutura, fazendo-nos viver experiências internas  de empoderamento  ou de desempoderamento emocional.

A DINÂMICA VERSUS ESTRATÉGIA DE REGRESSÃO

É algo natural em nossa experiência diária, seja potencializado por algum estímulo externo (uma música, uma foto, uma conversa, etc…) ou de forma totalmente espontânea (como consequência da nossa dinâmica psicológica), que informações que estejam associados às nossas memórias (sensações, emoções, pensamentos e estratégias comportamentais) influenciem nossa experiência do dia a dia, fazendo-nos regredir a questões passadas de nossa vida.

Assim sendo, essa característica de vivenciar processos regressivos, através do acesso a informações arquivas de outrora, de forma mais completa ou parcial, é uma característica natural da nossa dinâmica interior.

Um exemplo de uma situação corriqueira de processo regressivo, é quando estamos assistindo um filme e ao surgir uma paisagem específica, podemos bombardeados com  imagens, diálogos e emoções que nos relembram de vários momentos que foram  vivenciados com nossos pais, nas viagens que fazíamos aos finais de ano.

Diferente dessa característica natural de acessar informações do passado é a estratégia de regressão de memória. Através dela buscamos construir uma abordagem direcional (com propósito) visando potencializar esse aspecto do funcionamento interno (de regredir até memórias específicas), estimulando para que o foco do cliente possa acessar os conteúdos do seu passado,  com vivacidade e segurança emocional.

Esse reviver é chamado em Hipnose Ericksoniana de revivificação e, o que ocorre, é que através do processo do transe, o cliente irá reviver, com o máximo de estimulação sensorial (tato, paladar, audição, visual, etc…), determinadas experiências internas, que foram decodificadas por ele.

Podemos aqui dar o exemplo de uma pessoa que na experiência clínica, se sentiu desempoderado pelo pai, em seguir os seus sonhos de artista, guardando uma programação interna, de que ele “não tem o direito de fazer o que gosta, mas deve fazer o que é preciso”.

Num trabalho regressivo, iríamos favorecer que o cliente possa reviver essa experiência (revivificação), de forma segura visando atuar nas informações que foram construídas com essa memória, buscando realizar uma resolução das conclusões (não ter o direito de fazer o que gosta) que vem afetando sua vida.

O revivificar ocorrerá para atingir dois tipos de finalidades:

  1. Revivificação associada.
  2. Revivificação dissociada.

A revivificação associada geralmente acontece, para o cliente viver com toda intensidade, as informações que estão presentes dentro de um quadro mnemônico. Isso geralmente ocorre, para favorecer que o mesmo se conecte, de forma mais clara e estreita, com recursos perceptivos e emocionais, que estiveram presentes em determinada época de sua vida, visando criar melhores condições para serem usados em seus contextos atuais.

Já a revivificação dissociada, por gerar uma distância perceptiva do evento que acessamos, é excelente para ir ao encontro de associações emocionais e percepções limitantes, que estão presentes nas memórias repletas de conteúdos que geram sofrimento.

Essa dissociação saudável (que revive mas numa perspectiva segura), por favorecer que o cliente acesse os quadros de sofrimento interno, dentro daquilo que chamamos de “zona de segurança”, permite que ele esteja mais empoderado para atuar e dialogar com esses conteúdos , visando alterar alguns elementos, sem se afogar no sofrimento e permitindo gerar uma reestruturação nos conteúdos da memória.

Tal reestruturação permite mudar os conteúdos da memória, não no quesito das circunstâncias, mas sim nas associações emocionais e nas percepções que foram construídas, visando adicionar informações valiosas, que as tornem uma fonte de fortalecimento interior, amadurecimento e novas aprendizagens. 

Durante a aplicação da estratégia de regressão, seja fazendo o cliente se conectar de forma mais associada ou dissociada com as informações presentes, podemos administrar a profundidade do transe para favorecer uma experiência de regressão mais completa ou menos completa.

E, com isso, estamos indicando que  a intensidade e diversidade de informações que ele acessa, em conexão com determinadas memórias, estará relacionado com a profundidade do estado de transe que seja construído, pois o mesmo, por afetar a influência da mente consciente sobre a experiência interna, que diminui na medida que o transe é mais profundo, favorece que as informações do inconsciente emerjam com mais força (intensidade ) e riqueza de informações (diversidade).

Dessa forma, dizemos que quando alguém acessa experiências regressivas em que, por aquele momento específico, ele perde a conexão com o ambiente e que vive (estando associado) ou visualiza (estando dissociado) quase que totalmente aquele conjunto de informações do passado, ficando apenas uma pequena parte conectado com o aqui e agora, dizemos que ele está numa experiência mais completa de regressão.

E, quando ele acessa apenas alguns elementos presentes nas memórias (como algumas imagens, diálogos eou sensações e emoções), mas mantêm uma porcentagem maior de si mesmo, conectado com o ambiente onde ele se encontra, dizemos que ele está numa experiência menos completa de regressão.

Iremos promover uma regressão mais ou menos completa, segundo aquilo que identificamos que seja uma melhor maneira para o cliente se relacionar com tais conteúdos, para atingir seus objetivo clínicos. 

Independente das escolhas que forem feitas, a estratégia da regressão é sempre um processo, que envolve um período de preparação (conexão com o cliente, compreensão dos objetivos clínicos e criação das condições psicológicas propícias), de intervenção (o número de sessões visando abarcar as informações importantes e realizar as intervenções necessárias) e de sedimentação (reconhecer os efeitos do trabalho feito e integrar os resultados na integralidade do cliente).

Na segunda parte do texto iremos explorar melhor o processo da regressão (com as fases explicitadas acima), a forma como os conteúdos no processo regressivo costumam aparecer (seja numa regressão mais ou menos completa) e os respectivos efeitos clínicos.